Anos atrás peguei o edital do vestibular Universidade Federal da
Paraíba para decidir que curso fazer e seguir carreira profissional.
Dentre tantos que cogitava, um curso me chamara bastante atenção:
“Música Popular”. Tratava-se de um curso novo no campus, e que era
voltado para a musicalidade popular, folclórica, menos próxima das
escolas eruditas, como é de tradição nas academias do Brasil. Assim como
um músico orquestral, o músico popular estaria habilitado para seguir
carreira, vendendo sua força de trabalho para o mercado e vivendo
dignamente como qualquer outro profissional das outras áreas.
Este embate me fez repensar o que por muitos anos foi inadmissível
por parte de igreja. “Poderia eu tocar secularmente”? Era comum se
cobrar de um músico novo convertido o abandono total de suas funções no
secular na argumentação de que aquela atividade não era para glória de
Deus, em detrimento do servir integralmente ao louvor da igreja,
enquanto esta se levantava em oração para que um outro emprego “digno”
aparecesse para o recém chegado músico.
Repensando nesta questão, que considero praticamente resolvida (sou otimista), trago pequenos trechos do livro “Músico – profissão ou ministério”,
do cantor e compositor João Alexandre e de Luciano Garrutti Filho, em
que ele (João) contribui com sua opinião sobre o assunto. Acompanhe:
1) Tocar para glória de Deus significa tocar só música evangélica?
J.A.:
É bom que se lembre que Deus não é evangélico. Deus é Deus. Há uma
tendência de achar que a nossa música, ou a música executada pelos
evangélicos, seja a música correta. (…) a música não possui caráter o
credo religioso. No tocante à letra, qualquer música que se enquadre
naquele versículo que diz: “Quanto ao mais, irmãos, tudo que é
verdadeiro, tudo que é justo, tudo o que é puro, tudo que é amável, tudo
o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso
pensai”. (Filipenses 4:8); pode ser cantada, não precisa ser
necessariamente música evangélica. Existem músicas que nem evangélicas
são, e que falam sobre verdades muito bonitas, sobre valores
intrínsecos, os quais estão de acordo com os valores bíblicos. Tudo o
que está contido na Verdade bíblica é passível de ser cantado, sem
qualquer constrangimento. Aliás, depois da conversão já não deveria mais
haver distinção entre aquelas atividades que são consideradas como
carnais, e aquelas consideradas como espirituais. O que queremos dizer
com isso é que, depois da conversão, tudo o que fazemos deve ser
espiritual. Lavar o carro deve ser tão espiritual quanto cantar um
“corinho”, por exemplo. A Palavra de Deus nos ensina que devemos andar
em Espírito (Gálatas 5:16, 25; Colossenses 1:10; 2:6), significando que o
estar em Cristo não é constituídos em atos isolados, mas de um estilo de vida motivado por um coração transformado por Deus.
2) O músico profissional cristão deve e pode trabalhar em ambientes tais como bares, restaurantes, etc.?
J.A.:
Isto seria o mesmo que perguntar a um médico se ele pode trabalhar em
um hospital ou clínica. Com certeza, um médico não iria clinicar no bar
da esquina, ou em meio a um restaurante, assim como seria pouco provável
que um músico viesse a tocar em um determinado hospital ou maternidade.
O que está em questão aqui não é a atividade em si mesma, mas o
ambiente onde ela é geralmente executada. O ambiente no qual o músico
trabalha é um ambiente geralmente rotulado como pernicioso e nocivo à
moral pela maioria do setor evangélico da sociedade. Isto acontece pelo
fato de haver em alguns desses lugares a presença de drogas, bebidas, e
coisas do gênero. Todavia, gostaríamos de lembrar aos leitores de que o
ambiente de trabalho de um músico não se restringe “única e
exclusivamente” a lugares como os descritos acima. Existem outros
ambientes sociais onde o músico pode exercer a sua profissão, tais como:
concertos de música clássica, casamentos, recepções, etc.; os quais são
desprovidos deste caráter pernicioso. Além disso, as drogas, bebidas, e
coisas do gênero também estão presentes em outros ambientes de trabalho
tais como: hospitais, na política, etc. Não é necessário ser músico
para entrar em contato com a triste realidade do mundo a nossa volta.
Vale a pena dizer que nem sempre o músico tem o privilégio da escolha.
Em tempos de “vacas magras”, a fim de sustentar sua família (pois apesar
da desatenção de muitos, sim! o músico também é pai de família, e como
tal possui muitas possibilidades) ele pode vir a ter que tocar em
ambientes que não são de sua preferência pessoal, o que não significa
que por isso ele venha necessariamente corromper-se, ou coisa
semelhante. A única diferença entre a música e as demais profissões é
que ela vem sofrendo grande preconceito por parte da sociedade em geral
por vários anos. O músico, graças a algumas questões culturais, carrega
aquele estereótipo de bom vivan, o qual em hipótese alguma
condiz com a realidade dos fatos. É aquela velha estória da preguiçosa
cigarra que vivia a cantar o dia inteiro, enquanto que a valorosa
formiga somente trabalhava. Há também o ditado que diz que Deus ajuda a
quem cedo madruga. É um ditado “bonitinho” este, o único problema é que
ele desconsidera os músicos e os guardas-noturnos, que trabalham durante
a noite. Agora, um músico profissional cristão deve ser uma pessoa
preparada para enfrentar ambientes como estes sem se deixar influenciar
e, se possível influenciar aqueles que o cercam para que se aproximem de
Deus. É aí que entra o papel da Igreja, não como elemento repressor,
mas como aquela que há de prover ao músico o suporte espiritual e
emocional para que ele seja luz no mundo e sal da terra, e faça
diferença no meio onde vive. O músico, sempre é obrigado a ser uma
benção na vida de seus irmãos, e raramente tem o privilégio e a
oportunidade de ser abençoado por estes.
Fonte: Antognoni Misael
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